quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O CASULO VAZIO

Sentei-me no despenhadeiro e ali fiquei,

deixando vagar a Imaginação.

A Manhã era tão fria

que a própria Natureza recolhera

sua costumeira alegria. Nenhum pássaro

ou vento, nenhum ramo se punha

em movimento. E assim, aplacados

meus instintos, deixei que indistintos

vultos emergidos da bruma tomassem

minha mão e me conduzissem ao recesso

no qual, solitário, pulsa o coração.

Inclinei-me sobre ele, apurei

os ouvidos, e, dentre o espesso rumor

que a vida faz ecoar nas veias,

chegaram-me alguns aulidos

distantes, quase irreais.

Mas, ainda assim, por tê-lo há tanto

tempo aprisionado em mim,

pude entender o que dizia.

“Aonde vais?” – perguntou,

num tom angustiado de quem mais quer

indagar do que saber.

“Vou para a morte” – respondi, com ironia.

Calou-se, por um instante, e eu,

Assustado, pensei que de fato morria.

“Mas é para a vida que nasceste” – disse ele,

pulsando mais forte. “Não permitas

que a tristeza, o desânimo, a descrença

te desviem do caminho.

Vive com alegria, assume teu destino

como um guerreiro soberano.

Que a beleza seja o teu guia e a Esperança

a tua Luz, que acendi quando

era uma criança. Não ouças o que diz

a gente que amaldiçoa a vida.

Sua alma é mesquinha

e dela só nos chegam medos.

Abandona esse frutos azedos e busca

a essência do teu Ser.

A vida não passa de ilusão, sim, mas foi essa

a missão que te deu o Universo.

Quanto à morte, não te preocupes

em busca-la, pois anda sempre contigo,

desde que te viu nascer. Ela te arrebatará

um dia mas o que fizeres

pela vida há de permanecer.”

Levantei-me então e segui meu caminho,

abençoando esse vulto esguio

que me serve de companhia. E quando

ele ri, com descarnadas gengiva,

eu sei que exerce o seu papel, a fim

de me tornar ainda mais desperto

e espanar de mim os meus pesares.

Pois eu estou no centro da ampulheta

e a vida é ilusão, antes que o chão se abra

sob mim quero brilhar intensamente

e consumir o ultimo vestígio do meu Ser.

Já que a morte me tem suspenso

sobre o abismo, por um fio, que leve

de mim apenas o casulo vazio.

(Escrito por, Eduardo alves da Costa).

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